"O bom capoeirista é aquele que se deixa movimentar pela alma"
Vicente Ferreira Pastinha nasceu em Salvador, Bahia, no dia 5 de abril de 1889. Aos oito anos de idade, recebeu os primeiros ensinamentos de capoeira do Africano Benedito, que após observar Pastinha levar sempre a pior nas brigas que travava com outro menino resolveu ensinar-lhe a arte da capoeira.
Aos 12 anos, ingressou na escola de aprendizes da marinha, onde ensinou capoeira aos colegas. Em 1910, pediu baixa e começou a ensinar capoeira para Raymundo Aberrê, além de trabalhar no Diário da Bahia.
Em abril de 1966, foi à África, representar o Brasil no I Festival Mundial de Arte Negra, em Dakar (Senegal), recebendo várias homenagens dos participantes e promotores do festival.
Apesar de uma vida inteira de luta, dedicação e trabalho intenso em prol da nossa arte, Mestre Pastinha não obteve o respeito e reconhecimento merecido. Em 1971, já doente e quase cego, foi obrigado a sair de sua Academia devido à mudança no conjunto arquitetônico do Pelourinho. Com a promessa de retornar ao local assim que as obras fossem concluídas. Pastinha foi morar num quartinho úmido, sem janelas, situado na Rua Alfredo Brito, número 14, Pelourinho. Ao ficar sabendo que o prédio estava pronto, mas que na local de sua Academia tinha sido construído um restaurante e que agora aquilo tudo pertencia ao SENAC, o grande mestre caiu em profunda depressão.
O seu estado debilitado de saúde se agravava a cada dia e em 1979, sofreu um derrame cerebral ficando internado durante um ano em um hospital público. No dia 13 de novembro de 1981, o grande mestre dá o seu adeus definitivo deixando saudades, tristeza e lembranças no coração de todos os capoeiristas.
Mestre Bimba
Criador da Capoeira Regional (1900-1974)
Manoel dos Reis Machado nasceu em 23 de novembro de 1900, no bairro do Engenho Velho, Salvador-BA. Seu apelido resultou de uma aposta de sua mãe, D. Maria Martinha do Bonfim, e a parteira fizeram. Quando D. Maria estava grávida achava que ia dar à luz a uma menina e a parteira achava que a criança era um menino. Então fizeram uma aposta e quando Manoel nasceu gralhou o apelido de Bimba, por ser o nome popular dado ao órgão sexual dos meninos na Bahia.
Aos doze anos Bimba começou a aprender Capoeira Angola com um africano, chamado Bentinho, capitão da Companhia Baiana de Navegação, e a partir de 1918, começou a lecionar capoeira.
Em 1928, Mestre Bimba criou a Regional. Enquanto praticava a Capoeira Angola, foi aperfeiçoando os golpes já existentes, retirando alguns e acrescentando novos. Para isso, utilizou-se dos conhecimentos dos golpes do "Batuque, antiga dança/luta praticada pelo seu pai, Luiz Cândido Machado.
No início dos anos 30, conheceu Cisnando - cearense estudante de medicina e conhecedor profundo de jiu-jitsu, boxe e luta grego-romana - ao qual ensinou capoeira. Cisnando apresentou a Mestre Bimba vários golpes das lutas acima citadas com a intenção de ajudá-lo a dar um caráter mais belicoso à capoeira. A partir deste relacionamento, aconteceu o aperfeiçoamento da Luta Regional Baiana.
Em 1932, Bimba abriu a primeira academia de capoeira, a qual foi registrada e legalizada em 1937, sendo esta freqüentada por vários estudantes, intelectuais e pessoas oriundas das mais variadas camadas sociais, inclusive as mais altas. É importante ressaltar que Bimba obteve aprovação governamental ao dar à capoeira um caráter esportivo, ensinando-a em recinto fechado, com métodos e disciplina.
Em 1973, Bimba mudou-se para Goiânia a convite de um aluno. O motivo da mudança era a expectativa de uma melhora financeira, maior reconhecimento e apoio. Chegando à nova cidade, o sonho se desfez; nem melhoria financeira, muito menos apoio ou reconhecimento. Em meio a tantas desilusões e tristezas, seu vigor físico foi extinguindo-se e em 1974, morreu devido a um derrame cerebral.
Mestre Canjiquinha
A alegria da capoeira
Washington Bruno da Silva nasceu em 25 de setembro de 1925 em Salvador, Bahia. Filho de lavadeira foi sapateiro, entregador de marmita, mecanógrafo, goleiro do Ypiranga Esporte Clube, além de cantor de bolero.
Seu início na capoeira se deu em 1935, com Raimundo Aberrê, natural de Santo Amaro da Purificação.
O apelido Canjiquinha foi colocado por um amigo, Dalton Barros, devido ao samba-batuque de Roberto Martins, Canjiquinha Quente, o qual gostava de cantar.
Desde cedo Washington mostrou ter dom para a música. Cantava e improvisava como poucos e era também exímio tocador de berimbau e foi um dos que mais contribuiu para adaptação de cânticos folclóricos para a capoeira. Foi o criador dos toques: Muzenza, Samango e Samba de Roda e também das "Festas de Arromba", famosas no largo da Bahia. Nessas comemorações vários capoeiristas se reuniam e jogavam em troca de dinheiro ou bebida.
Segundo seus amigos e discípulos, Canjiquinha era uma pessoa muito alegre, grande conhecedor do folclore brasileiro, chegando a contribuir para a divulgação da nossa cultura através de filmes, documentários e shows.
Atuou no cinema, como capoeirista, nos longas metragens: Os Bandeirantes, Barravento (direção de Glauber Rocha - Premiado no Festival de Karlovy Vary - Tchecoslováquia), O Pagador de Promessas (direção de Anselmo Duarte - Palma de Ouro m Cannes), Senhor dos Navegantes (direção de Aloísio de Carvalho), Samba e inúmeros curta metragens.
Sobre seu mestre Aberrê, dizia que não o colocou logo na roda. Primeiro o deixava de lado e ficava explicando as coisas, para depois levá-lo para a roda.
Mestre Canjiquinha era um capoeirista que gostava de jogar em vários toques: São Bento Grande de Angola, São Bento de Angola, Cavalaria, Samango, Jogo de Dentro, entre outros. Em sua opinião, o capoeirista tinha que saber jogar o que o berimbau estava tocando. "Se você sabe dançar tango, quando toca um bolero você tem que ficar sentado", afirmava o grande mestre.
Canjiquinha trabalhou muito em prol da capoeira, pesquisando, fazendo diversos shows e apresentações, participando de filmes e documentários. No dia 8 de novembro de 1994, devido a um enfarto fulminante, partiu deixando sua marca na história da capoeira.
Mestre Paraná
Patrono do Grupo Muzenza (1923-1972)
Osvaldo Lisboa dos Santos, conhecido como Mestre Paraná, um dos maiores tocadores de berimbau de todos os tempos, nasceu em 1923, em Salvador-BA.
Angoleiro nato foi aluno do Mestre Antônio Corró, ex-escravo na Bahia, viajando por todo o Brasil mostrando a capoeira e o som inigualável do seu gunga, gravando um compacto duplo pela CBS (Capoeira-Mestre Paraná).
Grande difusor da nossa arte, Mestre Paraná, a convite de Mercedes Batista, foi a Portugal mostrar a capoeira do Brasil, participando do filme "O Pagador de Promessas" (direção de Anselmo Duarte - Palma de Ouro em Cannes) e foi o primeiro a tocar berimbau na orquestra sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Nos idos dos anos 50, fundou o Grupo de Capoeira "São Bento Pequeno", no qual constituí toda a formação do Grupo Muzenza.
No dia 7 de março de 1972, no IAPASE (Rio de Janeiro - RJ), vítima de um súbito colapso cardíaco, morreu cantando o grande angoleiro, deixando uma lacuna em nossa capoeiragem.
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